Acabei de chegar. Pelo portão que passei, deixei a porta entreaberta,
para trás deixei meu filho.
Como chorei, momentos intensos, profundos e quase eternos.
Em sua lápide lê-se isto: "A transitoriedade desta terra, não consegue se sobrepor a
s promessas da Eternidade que permeiam o coração daquele que conheceu o Criador."
Não haviam muitos presentes no sepultamento,
somente eu e minha dor que agora parece ser uma presença constante em mim.
O sol frio de inverno refletia sobre seu caixão triste
parecendo querer trazer um fio de esperança ao coração que sofre.
O silêncio do dia era estonteante. Nunca encontrei tanta dor
concentrada em um único momento. Ao olhar para o nada,
percebendo de fundo a sua foto ainda sorrindo me fez
lembrar de todos os sonhos que tinha; quando falava deles despontava
um sorriso inocente em seus lábios, falava com tanta convicção do sangue
forte de um novo ser que isto me enchia o coração de alegria:
"Conquistarei o mundo, amarei somente uma mulher, serei honesto,
farei a diferença"... sonhos, sonhos, sonhos.
Sonhos que agora se comprimem em sua última e
apertada morada. Sonhos que como as rosas que estão
sobre seu peito se desfarão e do doce cheiro ficará somente
a lembrança de um passado que se foi.
É difícil me lembrar disso tudo, mas no entanto,
está em mim e latente dentro de mim, esses sentimentos
me assombram em plena luz do dia. Não consigo enterrá-los.
Talvez o responsável seja o amor, que como a poeira que
é sempre a última manifestação de uma explosão,
ele vem depois de tudo para amenizar o que restou,
a dor que resistiu a tudo e permaneceu.
A mim, caberá para o futuro que me espera,
me alegrar das lembranças que deixou, das vezes que
falou de seus amores, das vezes que eu o amei como a um filho.
Sepultei meu filho.
A vida há de continuar e espero que neste rio
ela possa me levar. Procurarei não olhar para trás.
Aliás, olharei para trás sim para todos os dias me
lembrar que o ser humano é como a flor da erva, que nasce,
brilha, mas no momento seguinte já não existe mais.
Sepultei meu filho.
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M. Arioso