28 de fev. de 2010

&_Uma dorzinha

Um poema é como uma dorzinha bem lá no fundo...
Uma dorzinha que é ruim, mas que no fim gostamos...
É aquele sentimento disfarçado, mas presente.
É a necessidade de buscar signficado nas palavras...
O anseio de fazer-se entender!
É a construção de sentidos num palácio de palavras...

Poema.
Que satisfação saber de sua existência.
Deus é um poeta, certamente o é!

24 de fev. de 2010

&_O Corredor

I

Era fim de tarde, resolvi sair pra respirar, pra esquecer-me de mim... Ao começar a caminhar deparei-me com um corredor estranhamente comum. De imediato não consegui descobrir onde estava, mas segui em frente. Meus sentidos se aguçaram quando encontrei uma porta com a descrição "Acesso Restrito." Agitei-me no íntimo ao compreender essa informação, sabia que era familiar, sabia que conhecia aquela sala.


Afastei-me da porta por segurança ou medo, não sei. Hesitei estar ali, mas sabia ao mesmo tempo, que tinha de estar, ou melhor, que não havia como fugir. Foi então que descobri. Estava vagando pelos corredores da minha alma. Fiquei alegre ao descobrir isso ou mais triste, talvez.

Tomei coragem, toquei a porta, insisti para que se abrisse. Estava trancada, mas encontrei facilmente uma forma de entrar, afinal lá, ou melhor, aqui na minha alma, eu conhecia todos os segredos.


Era um quarto relativamente escuro, havia apenas a luz de um abajur solitário... Senti pavor ao entrar, ao saber tudo o que ia encontrar, mas resolvi encarar. Afinal, a descrição deste lugar já era antiga pra mim, porém não vívida: Meus olhos descansaram por sobre uma cama. Uma cama linda, um edredom branco, do mais branco que já tinha visto. Ele estava estendido de uma forma pronto a receber o casal. Era lindo, suave! A meu ver, parecia-me um local protegido, restrito, um lugar de apenas dois seres. Duas almas. Meu coração desejou intensamente deitar-se lá.


Segui pelo quarto procurando outras peças, deparei-me com lembranças quentes, porém esquecidas. Era a lembrança de um sábado, um dia solitário, andávamos de mãos dadas, e em alguns momentos seu toque carinhoso segurava meu braço, procurando um apoio, procurando aquecer suas lindas mãos, afinal estávamos em um parque, era inverno.

De repente pude sentir o frescor daquela tarde gélida inundando o quarto, senti frio, senti a falta que você me fazia naquele momento...


Nós caminhávamos pelo parque, havia muitas folhas secas, havia um silêncio inconfundível que só era quebrado pelo seu sorriso que a tudo completava. Como seu sorriso me encantava...



II

As lágrimas tentaram irromper de meus olhos, mas segurei firme, precisava seguir... E ao prosseguir deparei-me com outra lembrança, um tempo diferente. Via que juntos olhávamos um documento que não era comum para nossos dias, olhei com atenção e percebi que eram nossos passaportes, vi que abrimos a página do país de destino, li com todas as letras Scotland. Como estávamos felizes, era nossa primeira viagem ao exterior, já era um sonho antigo conhecermos a Escócia. Percebi que o sonho era meu, desde os tempos de solteiro, mas desde que havíamos nos conhecido você me apoiava insistentemente para viajarmos para lá, dizia que não me deixaria ir para tão longe sem seus cuidados...


Faltava apenas vinte dias para a viagem, estávamos exultantes. Podia ver suas correções ao meu inglês, isso me insultava e me divertia também e tudo acaba em beijos e carinhos... Como estávamos felizes, nosso coração estava exultante por termos encontrado um ao outro...


Meu peito estava muito apertado, começava a perceber que precisava sair logo dali ou não sei se suportaria ver tudo aquilo. Curvei minha fronte, sentia o descompasso do coração e a respiração ofegante. Meu Deus o que estava acontecendo comigo, pensava. Neste momento um brilho opaco-dourado chamou-me a atenção. Percebi que o brilho vinha de um local reservado mais para o outro lado do ambiente. Algo imediatamente me antecipou que não deveria seguir em frente, mas naquele dia estava decidido a conhecer os quartos da minha alma. Segui!


Caminhei com dificuldade até o local de onde o brilho me chamava. Como era difícil manter a seqüência de um pé após outro. Com muita resistência meus olhos viram o que se traduzia em um golpe ao coração. Era um punhal, um punhal aos seus olhos. Pois na verdade vi por trás da proteção de cristal reluzente duas alianças.


Não podia acreditar, elas estavam lá, como não havia percebido antes, questione-me. Estava lá, um brilho, um encanto, parecia que nunca tinham sido tocadas por mãos... Eram douradas de um ouro intenso, uma cor vívida, uma cor que parecia jamais perder o brilho. Quase desfaleci. Mas relutante aproximei-me para contemplar a cena. Podia ver o nome gravado naquela que seria a minha aliança contigo, Joy estava gravado com uma delicadeza que não tinha visto em outro lugar. Este era o meu nome para você que se traduzia verdadeiramente como alegria. Havia escolhido este nome muito antes de te conhecer.


Com muita curiosidade, corri os olhos para ver o que você havia pedido para ser gravado em sua aliança, mas não consegui compreender o sentido daqueles signos, eram estranhos à minha compreensão. Fiquei ali por muito tempo, não conseguia pensar ou reagir, somente apreciava aquelas alianças, símbolos tão profundos do intenso amor que nutríamos um pelo outro. Como me fascinou encontrar algo que nos unia, algo que trazia sentido a nós dois, a nossa história. Permaneci calado e imóvel até que meu coração encontrou forças para continuar, para voltar à vida.


Resolvi deixar aquele lugar tão singular do quarto, foi quando ao lado, apenas há alguns passos de distância, deparei-me com um berço. Sim, era um berço, relutei com minhas lembranças para compreender o que um berço fazia naquele lugar. A resposta veio rapidamente quando avistei um nome pequenino no alto da cabeceira, Pedro Murilo - desta vez não me contive, era impossível. As lágrimas vieram de um som gutural que se formou em meu peito e se espalharam em soluços, lágrimas e dor, muita dor. Já não conseguia mais compreender o que estava acontecendo comigo. A única coisa que me mantinha a razão era a lembrança de que eu estava viajando pela minha alma.


Pedro Murilo seria o nome do nosso primeiro filho. Sonhávamos com ele todas as noites. O pequeno quarto dele já estava pronto. Era de um azul lindo, lindo como o dia de primavera. Vi uma estante no alto e lembrei-me que brincava com você dizendo que desde os primeiros dias dele eu faria uma bibliotecazinha com todos aqueles livros coloridos que haviam marcado a nossa infância. Vi também todas as roupinhas que você havia escolhido pra ele, era tudo tão colorido, tão vívido, tão feliz. Sabia que só podia ser você, era uma felicidade que só encontrava em seus olhos. Como amei aquele momento. Um sentimento paterno me incendiou o peito, encontrei seus olhos, nossos dedos se entrelaçaram e contemplamos aquele berço, aquele local tão singelo, mas tão indefeso... Lembro-me que sonhava o narizinho dele tão perfeito como o seu e você insistentemente me dizia que ansiava para que ele pudesse escrever poesia assim como eu escrevia. Queria que ele tivesse os mesmos olhos sinceros que você havia encontrado em mim há tanto tempo.


Chorei! Chorei muito. Chovei de dor, de alegria, de descontrole, de tristeza. Chorei de ausência, de silêncio. Chorei.



III

Percebi que muitas horas se passaram, me recompus e tentei seguir em frente, afinal, aquele lugar de minha alma embora sempre perto, havia me surpreendido grandemente com tantas revelações. Parecia-me tão secreto e protegido durante toda a vida. Surpreendi-me ao descobrir agora que estava aberto, totalmente acessível.


Queria continuar ali, queria desfrutar mais daquele momento tão intenso, tão único, tão meu, tão nosso, mas percebi que um vento começou a surgir no interior do quarto. Chegou como brisa, mas logo se intensificou, empurrava-me para fora. Não sabia o motivo, mas sabia que não me deixaria ali. Abatido que estava e sem forças permiti ser lançado para fora do quarto, logo que cai abandonado no corredor, à porta bateu com toda a força e se trancou com uma intensidade que não sabia existir. Meus ouvidos trincaram ao som daquele impacto.


Fiquei no chão, em silêncio, respirava com dificuldade, estava escuro, uma escuridão diferente das noites que amava. Repentinamente senti aquele cheiro novamente, o cheiro do parque, da brisa de inverno, da tarde calma, o cheiro do silêncio. Tentei recobrar as forças, mas algo havia de estranho, meu corpo não respondia mais aos meus comandos, percebi minhas lembranças começarem a se desvanecer, desesperei-me, o que era aquilo? Não podia acreditar, mas era real, era minha vez, havia chegado.


Eu estava morto. Sim, morto para este mundo, morto para a possibilidade de um dia encontrar nós dois, morto para o tempo de encontrar meu filho, meu Pedro. Morto para me abandonar em seus braços. Morto para todas as lembranças do nosso quarto, daquele quarto.


Pela primeira vez, respirei com alívio. Minha experiência humana havia terminado. Morri.



Milton Arioso - 2010, todos os direitos reservados. Proibida reprodução total ou parcial sem citar a fonte e sem autorização do autor.



18 de fev. de 2010

&_Maria Duplessis

Na poesia encontramos caminhos que a mente racional não consegue nos apresentar!


Maria Duplessis
(Alexandre Dumas Filho - 1859)

Fiz promessa, dizendo-te que um dia
Eu iria pedir-te o meu perdão;
Era dever ir abraçar primeiro
A minha doce e última afeição.

E quando ia apagar tanta saudade
Encontrei já fechada a tua porta;
Soube que uma recente sepultura
Muda fechava a tua fronte morta.

Soube que, após um longo sofrimento,
Agravara-se a tua enfermidade;
Viva esperança que eu nutria ainda
Despedaçou cruel fatalidade.

Vi, apertado de fatais lembranças,
A escada que eu subira tão contente;
E as paredes, herdeiras do passado,
Que vem falar dos mortos ao vivente.

Subi e abri com lágrimas a porta
Que ambos abrimos a chorar um dia;
E evoquei o fantasma da ventura
Que outrora um céu de rosas nos abria

Sentei-me à mesa, onde contigo outrora
Em noites belas de verão ceava;
Desses amores plácidos e amenos
Tudo ao meu triste coração falava.

Fui ao teu camarim, e vi-o ainda
Brilhar com o esplendor das mesmas cores;
E pousei meu olhar nas porcelanas
Onde morriam inda algumas flores...

Vi aberto o piano em que tocavas;
Tua morte o deixou mudo e vazio,
Como deixa o arbusto sem folhagem,
Passando pelo vale, o ardente estio.

Tornei a ver o teu sombrio quarto
Onde estava a saudade de outros dias...
Um raio iluminava o leito ao fundo
Onde, rosa de amor, já não dormias.

As cortinas abri que te amparavam
Da luz mortiça da manhã, querida,
Para que um raio desposasse um toque
De prazer em tua fronte adormecida.

Era ali que, depois da meia-noite,
Tanto amor nós sonhávamos outrora;
E onde até o raiar da madrugada
Ouvíamos bater - hora por hora!

Então olhavas tu a chama ativa
Correr ali no lar, como a serpente;
É que o sono fugia de teus olhos
Onde já te queimava a febre ardente.

Lembras-te agora, nesse mundo novo,
Dos gozos desta vida em que passaste?
Ouves passar, no túmulo em que dormes,
A turba dos festins que acompanhaste?

A insônia, como um verme em flor que murcha,
De contínuo essas faces desbotava;
E pronta para amores e banquetes
Conviva e cortesã te preparava.

Hoje, Maria, entre virentes flores,
Dormes em doce e plácido abandono;
A tua alma acordou mais bela e pura,
E Deus pagou-te o retardado sono.

Pobre mulher! em tua última hora
Só um homem tiveste à cabeceira;
E apenas dois amigos dos de outrora
Foram levar-te à cama derradeira.

Machado de Assis - Toda Poesia de Machado de Assis, Editora Record, Rio de Janeiro, 2008, p.60

15 de fev. de 2010

&_Zoe Lilly - expressões com arte

Zoe Lilly - cantora, adoradora, artista plástica... tem músicas incríveis com uma letra belíssima. De fato, a Zoe tem trazido um colorido muito especial a este muito, ao meio cristão.
Indico, aconselho e insisto: ouça!

Site oficial: www.zoelilly.com
Twitter: @zoelilly
E-mail: contato@zoelilly.com